segunda-feira, 18 de dezembro de 2006

conto-de-fadas pós-moderno

E ela ficou em casa pra ver se o telefone tocava como ele havia prometido. Ela não acreditava, mas esperava... No dia anterior ela também estava descrente, mas ele a surpreendeu.

Ela estava agitadíssima. A casa parceia minúscula, e ela andava para todos os lados. Impaciente e já esperando a decepção que viria caso o telefone não tocasse.
Ligou o rádio. Numa hora dessas só a música poderia extravasar toda aquela ansiedade. Mas não adiantou. Pegou o celular, só pra ver que horas eram, ou talvez só para ter algo em suas mãos inquietas. Havia uma mensagem. Seria dele? Era. Era ele dizendo que não conseguia ligar. Ela se sentia impotente, frustrada, incapaz... Ela não podia ligar pra ele de sua casa, e nem sair e se arriscar a deixar o telefone! Tentou responder a mensagem, duvidando de que ela chegasse até ele. Mas ela chegou!
O telefone toca, mas o rádio está alto, e por um instante ela duvida que seja real. Ela desliga o rádio. O telefone toca outra vez. Ela respira e pensa "não deve ser ele". Mesmo assim ela atende. Ela diz "pronto" e do outro lado não obtém resposta, passam um, dois, três segundos, e enfim ele responde! Agora ele se tornou real.
Ela está tremendo, rindo como uma louca. Seu coração bate tão forte que parece que a casa toda está tremendo junto com ele. Seus pensamentos não se organizam e ela não consegue dizer nada do que tinha ensaiado dizer. Tudo o que ela quer é que aquele momento não acabe nunca. Escutar a voz dele, escutar como ele fala dela... Ela está encantada! Eles conversam sobre assuntos tolos. Ela queria perguntar tanta coisa pra ele, mas fica repetindo as mesmas perguntas sem nexo. Ele a faz sentir-se especial e interessante. E ela já não tem medo de deixar ele saber o quanto ela gosta dele.
Ela aperta a mão contra o peito, como que numa tentativa de slavar seu coração... de salvá-lo de ir com ele quando a ligação acabar. Mas já é tarde. Ela já perdeu o controle da situação. E eles se despedem com a promessa de que aquela ligação seria a primeira de uma série de muitas...
E ela agora tem certeza: nada mais será como antes...

"A ausência diminui as pequenas paixões e aumenta as grandes, da mesma forma que o vento apaga a vela e atiça a fogueira." (François de La Rochefoucault)

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