quinta-feira, 21 de dezembro de 2006

Brasil, mostra a sua cara!

"Só o olho vivo e o grito forte do país impedem novos desmandos no Congresso."

"Depende da população, da organização das entidades e do sentido permanente de que a reação cívica pode sim ter boas consequências e evitar que se repita o roteiro de sempre: os desmandos ocorrem, os escândalos estouram, a indignação eclode, dá-se um jeito mais ou menos, logo tudo fica devidamente esquecido e volta a valer o que a antiga, e malsã, musa cantava ao molde de embalar a dança dos maus intencionados.
É denominação leve para quem comete o crime de lesa-representação tentado pelas Mesas Diretoras da Câmara e do Senado na quinta-feira passada, que seria concretizado não fossem os recursos à Justiça apresentados por parlamentares sustentados pela reação dos mais variados setores e pessoas da sociedade.
Lamentavelmente, entre estes não estavam os partidos de oposição nem aquelas personalidades que durante a campanha eleitoral invocaram o direito de corroborar sujeiras sob a alegação de que sujo é o exercício da política em si.
Mesmo sem eles, houve o alvissaleiro ensaio da retomada de movimentação cívica, a verdadeira coalização que impulsiona e cria obstáculos e retrocessos.
É claro que não se tratou de uma reação à altura das barbaridades perpetradas no País uma após a outra. Muito menos será esse ainda incipiente despertar que vai levar figuras públicas, parlamentares ou não, a agirem de maneira condizente à delegação recebida nas urnas.
Mas é inquestionavelmente uma demonstração de que o Brasil não está totalmente rendido à malandragem nem disposto a aceitar qualquer tipo de indecência. É, portanto, prova de que a reação adianta, o que não se pode é desistir.
A partir de agora é preciso muita perseverança, capacidade de resistência, recuperação do sentimento de confiança, renúncia ao cinismo conformista travestido de engajamento, olho vivo e, sobretudo, grito forte, para impedir que suas excelências usem o tempo como arma de desmoralização da cidadania."
(Dora Kramer, jornal "O Estado de São Paulo")

Nenhum comentário: