quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

Guia de Conduta em Meios de Transporte Coletivos

Não é de hoje que andar de ônibus tem sido um suplício diário pra mim... Ter que ir trabalhar na mesma hora em que todo mundo vai e pra piorar morar numas das regiões mais populosas da cidade tem feito de uma simples ida ao trabalho uma experiência realmente estressante!
Então, resolvi criar esse código de conduta, para que pessoas como o senhor gordo de camiseta azul e a menina de blusa vermelha (sim, vocês mesmos!) se informem sobre a “ética do buzão”.

Parágrafo 1: Da entrada no ônibus.
Chamem-me de mal educada, sem princípios ou qualquer coisa, mas sei que vocês hão de concordar comigo. Se os idosos têm seus lugares garantidos antes da roleta, porque eles têm que entrar primeiro no ônibus? Isso causa uma muvuca totalmente desnecessária ali na frente... Então, vovôs e vovós do meu coração, sem desespero! Seus lugarezinhos estarão lá e ninguém vai sentar neles! Por isso eu peço, por favor, deixem os pagantes entrarem primeiro!
E mais uma coisa, nada de cortar fila (chegando pelo outro lado e já colocando o pé na escada) para entrar no ônibus!!!

Parágrafo 2: Da permanência no ônibus.
Essa é a alma do código de conduta. Tanto que será divido em subtópicos.
2.1: Das mães.
Mamães queridas, se seu filho tem menos de 5 anos (portanto, ele é um não-pagante) ele NÃO tem direito a um lugar! A menos, obviamente, que haja lugar vago. Caso contrário, o rebento vai sentado no seu colo! E quanto aos carrinhos de bebê, lembre-se: sempre fechados e o mais próximo possível de onde você está sentada.
2.2: Das sacoleiras.
Quem compra milhões de coisas no centro da cidade deveria ter carro, mas como nem sempre isso é possível, acaba sendo inevitável carregar sacolas e caixas gigantes dentro do ônibus. Mas isso não é desculpa pra colocá-las no meio do corredor! Procure sentar no fundo, mas lembre-se que de forma alguma a caixa deve estar obstruindo a passagem até a porta. Lembramos também que é necessário ter bom senso. Procure não levar peixes, bananas, carnes e adjacências que ficaram muito tempo expostas ao calor.
2.3: Dos sem-noção.
Sem-noção classifica-se como aquele tipo de pessoa que obstrui passagens e lugares em geral. Enquadram-se os idosos que ficam na porta de entrada, os desesperados que ficam na porta de saída (mas que só vão descer no ponto final), as tiazonas que sentam no banco do corredor quando o da janela está desocupado, aqueles colegiais com mochilas gigantes (que não a colocam no chão nem por um decreto de lei), as mocinhas que deixam o guarda-chuva pingar em cima da gente, os adolescentes que já tão precocemente tem problemas de surdez (só pode ser isso pra falarem tão alto), os molequinhos que comem aqueles salgadinhos fedorentos, etc, etc, etc... Para esse tipo de gente não há muito o que fazer... Eu costumo pedir licença com uma cara bem mal-educada e ir passando e esbarrando o mais estupidamente possível.
2.4: Dos sem-higiene.
Lembrete: não se classificam como sem higiene os passageiros que lotam os ônibus no fim da tarde! Mas já às oito da manhã, antes de ir trabalhar, recomenda-se banho, desodorante e roupas limpas. Num ônibus lotado, não existe situação pior do que ter que ficar com o nariz inconvenientemente próximo de um lugar que não tem um cheiro muito agradável... Isso sem falar das pessoas que “produzem” certos odores...
2.5: Dos tarados.
Confesso que existem muitos por aqui, mas já passei por algumas situações um tanto estranhas. Eis o meu procedimento padrão: Tente esquivar-se, sair de perto, olhar feio... Use todos os métodos para fazer o caboclo entender que está sendo desagradável (vamos supor só por um momento que ele não tem consciência do que está fazendo). Se todos esses métodos forem falhos, recomendamos o uso da legítima defesa (leia-se violência). Pode ser um pisão no pé para as menos ousadas ou um ataque direto à causa do constrangimento! Mas lembre-se: faça isso e imediatamente depois desça do ônibus (e preste atenção se não será seguida!).

Parágrafo 3: Da descida do ônibus.
Lembre-se de apertar o sinal com certa antecedência. É extremamente importante que você já esteja próximo da porta quando o ônibus parar! Nada de esperar que ele pare, para aí então você se levantar e ir até a porta! Mais um lembrete para as mães: as escadas são altas e é bem provável que seu filho de 3 aninhos não consiga desce-las sozinho, portanto segure a mãozinha dele! E pelo amor, verifique se seu filho realmente desceu do ônibus! (por experiência própria, não é uma experiência muito agradável ficar presa – e sozinha – dentro do ônibus).
Reiterando que gentilezas serão sempre aceitas de bom agrado, sejam com deficientes físicos, com mães com várias criancinhas, sacoleiros, enfim...

Espero que depois dessa, meus queridos amigos (ou inimigos) e companheiros de todos os dia no “buzão”, a gente possa se relacionar um pouco melhor... Pelo menos nesses 30 minutos diários em que convivemos! AH! E, só uma dica: falar bom dia para o motorista e o cobrador não custa nada e pode fazer com que você tenha sempre um amigo disposto a parar o ônibus fora do ponto ou perdoar a falta de 10 centavos pra passagem...

2 comentários:

Anônimo disse...

Dei muitas gargalhadas com seu blog. Parabéns. Espirituoso, criativo e útil, realmente útil.
Tentarei visitá-lo sempre.
Ludmila

Anônimo disse...

Achei muito engraçado esse texto
do Machado de Assis, escrito em 1883, sobre como se comportar nos bondes e lembrei de seu guia de conduta.
Nas dez regras, o autor escreveu:
Dos encatarroados
Os encatarroados podem entrar nos bonds com a condição de não tossirem mais de três vezes dentro de uma hora, e no caso de pigarro, quatro. Quando a tosse for tão teimosa, que não permita esta limitação, os encatarroados têm dois alvitres: - ou irem a pé, que é bom exercício, ou meterem-se na cama. Também podem ir tossir para o diabo que os carregue. Os encatarroados que estiverem nas extremidades dos bancos, devem escarrar para o lado da rua, em vez de o fazerem no próprio bond, salvo caso de aposta, preceito religioso ou maçônico, vocação, etc.
e assim por diante...
Da posição das pernas
Da leitura dos jornais
Dos quebra-queixos
Dos amoladores
Dos perdigotos
Das pessoas com morrinha
Da passagem às senhoras
Do pagamento

Veja como so costumes mudaram...

Zeca